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Use o vídeo para lutar por justiça pela Terra

Por Dalila Mujagic and Meghana Bahar

Este texto é dedicado aos nossos ancestrais, humanos e não-humanos, que nos lembram que nos enraizar constantemente no solo é decolonizar a justiça. Honramos a natureza selvagem da Mãe Terra que os antigos lutaram para regar eternamente. Em sua memória, seguimos na luta por justiça. 

A WITNESS tem o orgulho de lançar o novo material ‘Guia de Vídeo como Evidência para Defesa Ambiental‘, que visa a ajudar as comunidades afetadas pelas indústrias extrativistas a coletar documentação de vídeo e foto de alta qualidade e acionável de violações cometidas por grandes mineradoras, governos e muitos outros infratores.

Reconhecemos os grandes riscos que as pessoas que defendem o meio-ambiente correm para enfrentar o poder e entendemos que a coleta de evidências visuais é apenas uma estratégia que as comunidades usam para proteger seus direitos humanos ambientais. Esperamos apoiar essa resistência compartilhando o Guia para Defesa Ambiental ao longo dos próximos meses por meio de nossa campanha que amplia os apelos por Justiça na Terra. Junte-se a nós repostando nossos materiais ou nos retuitando, usando as hashtags: #VídeoParaDefesaAmbiental, #Video4Earth 

Por que devemos proteger as pessoas defensoras da Terra e da água?

Os apelos para proteger a Terra e todos os seus seres vivos estão se tornando mais altos e fortes em um momento sem precedentes, quando comunidades em todo o mundo estão enfrentando e sendo impactadas por crises ambientais devastadoras. Embora as causas do aquecimento global se originem no Norte Global, as pessoas que vivem no Sul Global estão sofrendo desproporcionalmente os efeitos das indústrias extrativistas, deslocamento forçado e perseguição por seu ativismo.

Historicamente, o Norte Global emitiu 92% do total de CO2 na atmosfera. Isso significa que não podemos falar sobre a crise planetária sem mencionar o colonialismo, o capitalismo, a supremacia branca, o racismo e o genocídio, questões que se tornam cada vez mais parte das conversas globais. Para proteger a Terra devemos também proteger aqueles e aquelas que cuidam dela: os povos indígenas, juntamente com seus aliados, que enfrentam crises diretas.

Veja aqui o trabalho dos nossos parceiros.

Wa’Omoni Rising: o que nossos ancestrais nos contaram

 

Saiba mais aqui.

Pessoas que defendem e monitoram comunidades próximas a habitats naturais sempre foram a primeira linha de defesa contra as indústrias responsáveis pela destruição de nossos recursos naturais compartilhados. De tempos em tempos, os povos afetados têm resistido pacificamente à exploração corporativa de florestas, pântanos, oceanos, litorais, céus e pontos críticos de biodiversidade. O preço da resistência é alto. Em todo o mundo, as pessoas que defendem as terras comunitárias e nosso meio ambiente continuam sendo silenciadas. Veja aqui o trabalho dos nossos parceiros.

Devolver as terras ancestrais é permitir que os ecossistemas prosperem

Desde 2016, a cada semana, mais de quatro defensores são assassinados. Inúmeros outros foram ameaçados, detidos e encarcerados por ousarem se opor a governos ou corporações que buscam lucrar com a extração de recursos naturais compartilhados. No entanto, os governos de todo o mundo continuam a planejar, permitir, subsidiar e acolher as indústrias extrativas em seus países. Essas indústrias – mineração, petróleo e gás, madeira, hidrelétricas, agronegócios e imóveis de alto padrão – muitas vezes colocam o lucro acima das comunidades.

A presença de corporações extrativistas multinacionais muitas vezes resulta no despejo forçado de comunidades de suas terras ancestrais, problemas de saúde decorrentes da poluição, destruição imprudente dos recursos naturais dos quais as comunidades dependem para sua própria sobrevivência e muito mais. As operações extrativas que começaram com despejos forçados de nações indígenas, a escravização de centenas de milhares de pessoas e a morte de muitos prisioneiros continuam prejudicando as comunidades. Em todo o mundo, as indústrias extrativas chegam e, simultaneamente, prejudicam as pessoas e os recursos essenciais de que as comunidades dependem para sua própria sobrevivência.

Leia o relatório (em inglês) “Dívida não paga: o legado de Lundin, Petronas e OMV no Bloco 5A, Sudão 1997 – 2003” para saber mais sobre a devastação causada pelas guerras do petróleo.

 

Por que usar o Guia de Defesa Ambiental por justiça pela Terra?

O Guia contém informações e boas práticas para ajudar ativistas e comunidades a coletar documentação visual de crimes e violações de direitos humanos ambientais para usá-la de forma eficaz em processos de defesa e responsabilização. Esse material reúne aprendizados de várias pessoas parceiras e aliadas nessa luta, utilizando uma variedade de táticas e tecnologias para obter justiça para suas comunidades. Por meio do uso de patrulhas terrestres comunitárias, fotos e vídeos de armadilhas fotográficas, filmagens de drones, imagens de satélite e mapeamento territorial, a Nação Kofán da comunidade de Sinangoe conseguiu usar informações confiáveis, baseadas em evidências e em tempo real sobre invasores para defender melhor suas terras e direitos ancestrais.

Além do risco à vida e à saúde, existem ainda outras barreiras na luta para proteger nossos direitos humanos ambientais básicos. Poder, política e lucro não apenas impulsionam o desejo de explorar os recursos naturais, mas também alimentam a luta por justiça e responsabilidade legal. No entanto, comunidades indígenas, como a Comunidade Endorois do Quênia, cujas vidas e meios de subsistência estão ameaçados em nome do “desenvolvimento” — uma narrativa central do capitalismo — ainda lutam por justiça e responsabilidade e inspiram inúmeras outras pessoas a fazerem o mesmo. Leia este relatório da WITNESS e parceiros do CEMIRIDE (Centre for Minority Rights Development).

Restaurar relações corretas é decolonizar a justiça

A proteção do nosso planeta é o desafio dos direitos humanos. Se falharmos em proteger nossa terra, ar, água e atmosfera, não apenas impediremos soluções para desafios de direitos humanos arraigados – pobreza, migração, guerra, doença, violência patrocinada pelo Estado e injustiça racial – como agravaremos todos esses problemas. Como espécie, ainda estamos curando as gerações de feridas causadas por danos causados ​​uns aos outros e os danos resultantes exercidos em nosso planeta.

Comunidade Juba Wajiin luta pelo direito à terra

 

É importante reconhecer que muitas comunidades nunca receberão a justiça que merecem, muito menos justiça em um tribunal. No entanto, também é importante lembrar que a justiça não vem apenas dos tribunais. Utilizar fotos e vídeos para defesa ambiental pode nos ajudar a expor uma ocupação ilegal de terras ou convencer um juiz a interromper um projeto extrativista destrutivo. A justiça pode assumir muitas formas e as comunidades têm o direito de definir os caminhos a seguir.

A justiça se coloca entre o equilíbrio e a harmonia. Isso se aplica a qualquer ordem – universal, natural, humana. Para que o planeta continue alimentando seus habitantes e prosperando em seu esplendor vegetal, é imperativo o retorno ao equilíbrio – ou às relações corretas – com a Terra, seus recursos e seus povos.

Se responsabilizar é pedir desculpas. Se responsabilizar é fazer reparações ativas. A justiça fecha as torneiras de óleo. A justiça decolonial retorna às raízes.

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