Blog

Transformando participação em visibilidade nas transmissões ao vivo

Dando sequência ao nosso post com dicas para aumentar o envolvimento do público durante transmissões ao vivo, hoje vamos falar sobre como o engajamento dos participantes aumenta a visibilidade dos streamings. Você sabe como as interações no seu vídeo se relacionam com o algoritmo que determina para quem sua transmissão irá aparecer? Como usar tags para incentivar a tomada de ações entre seus seguidores? Neste post, vamos entender melhor questões como estas.

Foi pensando nas diversas possibilidades que o mundo das transmissões ao vivo pode oferecer para os ativistas e comunicadores, que a Witness criou o projeto MobilizaJá (Mobil-Eyes-US). O objetivo é ajudar ativistas a engajar seus públicos de forma planejada, de modo que eles se tornem também parte ativa das transmissões, sejam mais úteis e co-presentes, quando necessário. Nós tivemos a chance de observar, testar e aprender junto a transmissões que monitoramos no âmbito deste projeto ao longo dos últimos três anos. Agora, nós estamos compartilhando alguns destes aprendizados.

 

Explique o “efeito em rede”

O alcance de seus vídeos e transmissões aumenta em redes sociais a partir do total de engajamento gerado nos comentários e reações (link em inglês), tanto enquanto você transmite, como posteriormente, quando já encerrada. À medida que mais pessoas comentam, reagem, usam tags ou compartilham sua transmissão, mais pessoas ainda irão efetivamente ver sua transmissão em suas linhas do tempo. 

Você pode explicar este “efeito em rede” para o seu público. Evite tratar as pessoas como consumidores. Tente não pedir a seus espectadores para “seguir, se inscrever e dar like” – assim como os pedidos tantas vezes repetidos em vídeos pela web – sem explicar a eles como isto ajuda a causa em questão. 

Quando seus seguidores entendem o impacto de suas ações, eles tendem a se engajar de uma maneira mais profunda e a participar de forma regular, desenvolvendo então uma forte e efetiva rede de apoio e solidariedade. Da próxima vez, estes usuários vão se engajar mais rápido, de forma mais eficaz e estarão prontos para espalhar essa cultura de co-presença e assistência para novos usuários.

Você pode pedir para as pessoas participarem a cada 3 a 5 minutos da sua transmissão ou quando você perceber que não há muita ação acontecendo no vídeo. Você também pode pedir aos usuários para serem “embaixadores” e explicar esta cultura de interação para os novos usuários das suas transmissões. Enquanto fazem isso, eles irão não apenas aumentar o impacto da mudança cultural proposta, mas também potencializar a publicação em si, por meio da adição de comentários novos e interações entre usuários. 

Ao mesmo tempo, esta estratégia deixa sua transmissão menos repetitiva a respeito da sua mensagem e, assim, você evita se parecer com a aproximação “marketeira” usualmente empregada por influenciadores e marcas.

 

Tags de ação

Durante o piloto realizado nos Jogos Olímpicos de 2016, nós experimentamos com a ideia de tags de ação, indicadas pelo símbolo “^”, que convidavam espectadores à distância para compartilhar usando a tag ^makevisible (ou “dê visibilidade” numa tradução livre para o Português). Ao invés de uma #hashtag, nós usamos um tag de ação (^actiontag) para criar um sinal para espectadores das ações que os streamers querem que eles tomem.

Por exemplo, na transmissão acima, nós tivemos um contexto histórico completo do processo de remoção ocorrido na Vila Autódromo com comentários em narração ao vivo durante nossa transmissão, feito pela antropóloga visual Antonia Gamaque atuou junto aos moradores para documentar via vídeo muitas das táticas ilegais usadas pelas autoridades municipais e, assim, torná-las legalmente responsáveis por isso. 

Como este foi um vídeo de contexto, parte de uma série de transmissões ao vivo denunciando violações de direitos humanos relacionadas às Olimpíadas, nós convidamos apoiadores para compartilhar este conteúdo histórico e informativo usando a tag de ação ^makevisible. No dia seguinte, tivemos a oportunidade de transmitir ao vivo junto a Thainã de Medeiros com contextualização histórica e comentários do arquiteto e pesquisador Rodrigo Bertamé. Além disto, pudemos correlacionar as semelhanças nas violações ocorridas no Complexo da Penha com aquelas da Vila Autódromo. 

 

Transmissão ao vivo no Complexo da Penha com Thainã de Medeiros, durante os Jogos Olímpicos de 2016

 

Tudo isso foi feito dentro da caixa de comentários do Facebook, com colaboração adicional de outros ativistas e da equipe da Witness – o que ajudou a aumentar o efeito de rede com conteúdo contextualizado, confiável e engajado. Nós também criamos eventos como este para manter as pessoas atualizadas e cientes da relação entre a série de vídeos. O evento também ajudou as pessoas a se organizarem e se agendarem para estarem disponíveis quando a transmissão ao vivo começasse.

No próximo post da série, iremos aprofundar mais nas experiências sobre contextualização de transmissões ao vivo, a partir da experiência do projeto Mobil-Eyes-Us. Acompanhe pelas nossas redes sociais.

 

 Contextualize

Mantenha a conversa fluindo com seu público. Cole links e artigos relacionados ao assunto da sua transmissão para seu público entender o contexto do que está ocorrendo. Repita informações importantes que podem ser úteis depois, como placas de carros de polícia, eventos que indiquem de alguma forma o tempo para evidenciar quando o vídeo ocorreu. Peça a quem estiver assistindo para pesquisar e anotar informações relevantes. Isto irá dar a eles um senso de propósito, mas apenas se você conseguir atualizá-los quando estas colaborações desenrolarem em resultados. Os usuários terão assim um retorno concreto de como a colaboração deles está fazendo impacto.

Nós vimos isto observando como comunidades usualmente se comportam nas plataformas de mídias sociais. Durante a fase piloto nos Jogos Olímpicos em 2016, nós experimentamos com diferentes formas de apresentar conteúdo relevante em uma série de transmissões, que fizemos em parceria com o Coletivo Papo Reto e ativistas de diferentes partes do mundo que colaboraram à distância. Nos estágios iniciais desta iniciativa, nós focamos em compartilhar contexto através dos comentários das transmissões do Facebook e Periscope usando também outras transmissões como fontes de informação.

Aqui está um exemplo de uma série de quatro vídeos ao vivo no dia 18 de agosto de 2016. As transmissões se concentraram em explicar como moradores da favela da Skol – em homenagem à fábrica de cerveja abandonada e ocupada – sofreram despejos por mais de sete anos de promessas quebradas do governo, e como as famílias estavam recebendo aluguel social precário que não era suficiente para manter seu padrão de vida, o que as forçou a se aprofundar na pobreza. 

O primeiro vídeo ao vivo foi a transmissão mais curta na série do dia devido a problemas de conectividade – um problema comum com a transmissão ao vivo em um local que tenha pouco sinal ou muita interferência na rede de internet móvel. Por isso, não permitia muitas interações em tempo real, como links para artigos que explicassem melhor as circunstâncias do local. No entanto, explicamos as limitações técnicas para o público e que nosso objetivo era uma série de transmissões com conteúdo narrado, em português e inglês, oferecendo contexto histórico da ocupação da área e do processo de despejo. Essas transmissões também serviram de contexto para os vídeos da série e na iniciativa como um todo mostrando a complexidade dos impactos Olímpicos no Rio de Janeiro.

 

 

Primeiro vídeo em uma série de quatro transmissões ao vivo da favela da Skol, no Complexo do Alemão. Como era um vídeo contextual, pedimos aos apoiadores que tornassem essa história visível com o marcador de ação “makevisible”.

 

No segundo vídeo ao vivo, assim como no terceiro e quarto, foi possível informar ainda mais sobre a história do local, entrevistando moradores e complementando com comentários que incluíam links para gravações anteriores e publicações relevantes para o que estava sendo dito no vídeo de fontes como o Coletivo Papo Reto e páginas criadas pelos próprios residentes como uma forma de mobilização online. Incluímos um link para a página do Facebook mantida por Camila – uma residente, ativista e uma parte importante da liderança da favela da Skol – para que as pessoas pudessem se conectar com ela mais diretamente. Também nos ligamos a uma petição on-line feita pelos moradores para pressionar o governador do Rio. Adicionamos uma reportagem do Rio on Watch sobre o despejo da favela da Skol em português e inglês e encaminhamos nossos seguidores para live.witness.org, tanto durante a narração do ao vivo quanto nos comentários da postagem, para que pudessem encontrar uma contextualização ainda mais aprofundada.

 

Uma sessão de perguntas e respostas também é uma excelente oportunidade para aumentar o alcance de sua postagem, além de criar um relacionamento mais profundo com seu público. É uma oportunidade de aprender o que lhes interessa, mas também de compreender que competências online podem contribuir para melhorar as suas publicações.

 

Veja algumas perguntas sugeridas para saber mais sobre o comportamento do seu público e manter a discussão fluindo durante momentos inativos do seu ao vivo:

 

  • Em quais dispositivos os usuários normalmente assistem as transmissões?
    • Depois de saber isso, você pode decidir se deseja transmitir vertical ou horizontalmente em seus próximos vídeos ao vivo.
  • O que os cativa para entrar em uma transmissão e permanecer?
    • Explique que a resposta deles ajudará a melhorar suas futuras transmissões e seu relacionamento. Lembre-se de que manter um relacionamento honesto e transparente com seu público o torna mais confiável para sua comunidade e fortalece esses laços.
  • Que informação chama sua atenção ao ler os links que fornecem contexto?
    • Seus espectadores não apenas estarão mais bem informados, mas também enriquecerão a conversa na seção de comentários com informações mais detalhadas sobre o que está acontecendo na transmissão. Os usuários irão apreciar que você está tomando o tempo para se conectar e informá-los ainda mais.

 

É muito útil conectar-se ao seu público se a ação na sua transmissão ficar mais lenta, de modo a manter o público interessado nesse meio tempo. Tenha em mente que há um atraso criado pelo Facebook para viabilizar a transmissão. Como o tempo de atraso varia de acordo com o dispositivo usado e a largura de banda disponível, você deve testar quanto tempo o público leva para interagir com suas informações, monitorando suas reações na seção de comentários.

 

3. O fim é apenas o começo

O final da sua transmissão não significa que você terminou! Você ainda pode responder a comentários depois que a transmissão for gravada e, ao fazer isso, você terá um impulso extra no alcance e criará um relacionamento mais profundo com seu público. Certifique-se de escolher uma hora do dia em que as pessoas estejam inclinadas a ficar on-line para que novos comentários apareçam em mais feeds de notícias.

Verifique e melhore a miniatura (ou thumbnail) do seu vídeo, se necessário. Você pode escolher entre dez momentos diferentes da sua transmissão ou fazer upload de uma imagem personalizada do seu computador. Você também pode editar seu título, incluir mais links e tags em sua postagem.

 

85% dos vídeos no Facebook são assistidos sem som, portanto, adicionar legendas à sua transmissão ao vivo é uma boa prática a ser considerada. Isso aumentará ainda mais sua transmissão e aumentará a probabilidade de chegar ao público que rola rapidamente pelo feed de notícias e que só pode ficar viciado nos primeiros segundos de seu conteúdo. Com sorte, eles poderão salvá-lo para ver mais tarde e se envolver melhor com sua pergunta e seu conteúdo.

 

Por exemplo, aqui nesta série de quatro transmissões (1,2,3 e 4), adicionamos resumos e informações adicionais com links relevantes em uma audiência pública – realizada pelo Centro de Habitação e Habitação da Defensoria Pública – que tivemos a chance de transmitir apenas dez dias após a cerimônia de encerramento do Rio 2016, quando moradores da favela da Skol, entre outras centenas de famílias, estavam enfrentando a possibilidade de que até o aluguel social existente fosse eliminado na crise financeira pós-Jogos do Rio.

 

Resumindo!

Então, para resumir: primeiro, você precisa planejar com antecedência o seu ao vivo e garantir que as pessoas estejam cientes disso. Quando você estiver transmitindo, não trate as pessoas como clientes ou um público-alvo passivo, interaja com perguntas e explique a elas o motivo de seu envolvimento ser importante, em vez de apenas pedir que elas se inscrevam e curtam sua página. Durante o streaming, procure também enriquecer o assunto que você está cobrindo com contexto, fornecendo links ou referências na seção de comentários, por exemplo. Depois que terminar, lembre-se de continuar aprimorando seu conteúdo melhorando as descrições, adicionando legendas às fotos.

 

Ao fazer isso, os usuários serão equipados com uma nova maneira de apoiar as causas pelas quais são apaixonados e evitar o algoritmo que nos mantém em bolhas fechadas, sem apoio e não colaborativas. O primeiro passo para a mudança é entender que, simplesmente usando redes sociais, podemos ter um efeito real sobre as questões que nos preocupam. Podemos aproveitar as atividades diárias das redes sociais, como compartilhar conteúdo, reagir, interagir nos comentários, marcar páginas e amigos para podermos visualizar o poder coletivo que todos temos para a mudança. Progressivamente, podemos então avançar para uma cultura participativa mais forte, usando ferramentas ainda mais poderosas para nos conectar, independentemente da localização geográfica ou das habilidades pessoais.