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Ferramentas para organizar catálogo de acervos de vídeos de direitos humanos

Escrito por Ines Aisengart Menezes e Yvonne Ng

Na WITNESS, uma pergunta comum que ouvimos de ativistas e lideranças comunitárias que apoiamos na preservação audiovisual é “Que ferramenta de banco de dados devo usar para gerenciar meus vídeos?”. É uma pergunta complicada, porque não existe uma única resposta correta. Normalmente, nossa resposta é: “depende!”

Muitos fatores podem influenciar sua escolha de ferramenta de catalogação ou banco de dados – custo, requisitos técnicos, envolvimento da comunidade, recursos de colaboração, usabilidade, acessibilidade, suporte, treinamento, sustentabilidade, segurança e privacidade para dados confidenciais.

Abaixo, iremos comparar quatro ferramentas de catalogação que usamos anteriormente em nossos projetos, de acordo com vários fatores-chave. Esses exemplos estão longe de todas as opções disponíveis e podem não ser os mais adequados para você, por isso encorajamos que você também examine outras ferramentas.

Lembre-se, não importa qual ferramenta você escolha, a chave para construir um catálogo eficaz é ter um bom modelo de dados – ou seja, a maneira como você estrutura seu banco de dados, os elementos/campos que você usa e como eles se relacionam entre si. Isso se aplica, quer você esteja usando um programa de banco de dados complicado ou uma planilha simples. Também é importante documentar seu modelo de dados em um dicionário de dados para garantir que a catalogação seja realizada de forma consistente e correta e para ter uma estratégia para incorporar a catalogação em seu fluxo de trabalho.

Para obter mais dicas sobre como estruturar dados, confira nosso Guia de Ativistas para Arquivamento de Vídeos .

Uwazi 

Uwazi é um programa baseado na internet de banco de dados de código aberto criado e mantido pela ONG HURIDOCS (Sistemas de Informação e Documentação sobre Direitos Humanos). Estamos usando-o em nosso Rohingya Genocide Archive (Arquivo do Genocídio Rohingya), iniciativa com a Rohingya Vision. Uwazi é usado por ONGs, jornalistas, acadêmicos, advogados, ativistas, dentre outras pessoas para documentar violações de direitos humanos, gerenciar documentos e casos.

Custo e Requisitos

Uwazi tem o código aberto e pode ser baixado e instalado de forma gratuita. A auto hospedagem Uwazi, no entanto, requer um servidor e um administrador de servidor (por exemplo: configuração, instalação de dependências, manutenção, execução de atualizações, backup etc.)

Uma opção mais fácil é ter uma instância Uwazi hospedada e mantida pela HURIDOCS. A organização oferece diferentes pacotes de assinatura dependendo do volume de dados. Catálogos com menos de 100 MB são gratuitos, enquanto catálogos com até 500 MB custam aproximadamente US$ 100/ano. A maioria dos bancos de dados de catálogos baseados em texto não excederá esse tamanho (nota: o conteúdo audiovisual precisa ser armazenado separadamente e vinculado).

Envolvimento e colaboração da comunidade

Uwazi permite que vários usuários colaborem na criação ou uso de um catálogo. Os usuários podem receber diferentes permissões (níveis de administrador, editor ou colaborador) e podem ser organizados em grupos de usuários para facilitar o gerenciamento. Há também um recurso de formulário de envio para coletar informações de membros externos da comunidade.

Usabilidade e acessibilidade

Uwazi tem uma interface bastante amigável, mas configurar seu banco de dados requer algumas habilidades de modelagem de dados e revisão do Guia do Administrador do Uwazi. Também é possível contratar a HURIDOCS, como fizemos, para desenvolverem o sistema conforme a sua necessidade.

A interface Uwazi está disponível em inglês, árabe, birmanês, francês, coreano, russo, espanhol, tailandês e turco, embora também seja possível aos administradores traduzir e renomear manualmente os objetos da interface (ou seja, botões, menus etc.) para outras línguas.

Instâncias Uwazi hospedadas pela HURIDOCS ou na nuvem requerem acesso e uso da internet. 

Escalabilidade e Sustentabilidade

A HURIDOCS mantém ativamente a infraestrutura técnica da Uwazi e realiza desenvolvimento contínuo. Ela sustenta esse trabalho por meio de suas taxas de hospedagem. Embora o Uwazi seja de código aberto, existe o risco de que, como uma ferramenta comunitária de nicho, possa não ser sustentável se a HURIDOCS parar de mantê-lo.

Segurança, privacidade e dados confidenciais

Das ferramentas de catalogação que analisamos nesta lista, Uwazi é a única criada e mantida por uma organização de direitos humanos, destinada ao uso pela comunidade de direitos humanos. Como tal, o Uwazi foi construído tendo em mente a segurança da informação. A HURIDOCS utiliza centro de processamento de dados na Holanda, administrados pela Greenhost, com uma dedicada infraestrutura de segurança, incluindo criptografia de dados, monitoramento e firewalls. A HURIDOCS publica atualizações semanais de recursos e patches de segurança e os envia para instâncias hospedadas. Também existem opções para configurações hospedadas que usam VPN e TOR. O backup das instâncias hospedadas é feito de acordo com uma programação em um recurso de armazenamento criptografado.

Do lado do usuário, o Uwazi inclui opções para coleções públicas e privadas que exigem login do usuário e autenticação multifator opcional. Administradores podem monitorar atividades suspeitas por meio de registros de atividades.

Por que o escolhemos para o Arquivo do Genocídio Rohingya

Para este projeto, precisávamos de uma ferramenta que pudesse dar suporte a uma equipe remota e descentralizada de pessoas que iam fazer a catalogação. A segurança dessas pessoas e dos dados era uma preocupação significativa, por isso queríamos uma ferramenta que incorporasse a consciência dos riscos enfrentados por ativistas de direitos humanos.

Também queríamos controles de acesso que pudessem acomodar diferentes categorias de pessoas catalogadoras, permitir acesso seletivo a usuários externos e permitir eventual acesso público controlado. Tínhamos um orçamento para este projeto e queríamos ajuda para instalar e configurar uma instância hospedada, que conseguimos obter mediante um contrato com a HURIDOCS. Também conhecemos a HURIDOCS há muitos anos como uma organização semelhante, por isso já existia alguma confiança pré-existente. Uma deficiência para nós ao usarmos o Uwazi é que ele não foi projetado para catalogar ou gerenciar coleções de vídeos, portanto, seus recursos baseados em vídeo são mínimos. Por exemplo, os vídeos precisam ser incorporados em registros de outros hosts, como YouTube ou Facebook.

FileMaker

FileMaker é um programa de banco de dados relacional comercial da Claris, uma subsidiária da Apple. Nós o usamos para criar a People’s Database for Community-Based Police Accountability (Base de dados popular comunitária  para a responsabilização policial) com a Berkeley Copwatch. Ele combina um mecanismo de banco de dados backend com uma interface gráfica de usuário (GUI) para que usuários possam criar bancos de dados apontando e clicando e preenchendo caixas de diálogo, em vez de codificar. O FileMaker é usado principalmente por pequenas organizações e pequenas empresas nos Estados Unidos. Como os usuários constroem seus próprios bancos de dados do zero, eles podem ser usados ​​para qualquer finalidade, inclusive para catalogar vídeos sobre direitos humanos.

Custo e Requisitos

 “FileMaker Pro” é um programa de desktop independente e é a maneira mais básica de usar o FileMaker. Existem outras versões do FileMaker, incluindo “FileMaker Server” e “FileMaker Cloud”, em que você pode hospedar seu próprio banco de dados ou hospedá-lo pela Claris.

Desde junho de 2023, existem diferentes taxas de licença/assinatura para cada versão do FileMaker:

  •  FileMaker Pro: uma licença única para um computador por vez custa US$ 594.
  •  FileMaker Server: Licenças para 5 a 99 usuários custam a partir de US$ 2.970 para uma licença perpétua ou US$ 990 por ano para uma licença anual. Inclui FileMaker Pro.
  •  FileMaker Cloud: Licenças para 5 a 10 usuários custam a partir de $1.260 por ano. Inclui FileMaker Pro.

Veja requisitos detalhados de sistema operacional e hardware aqui

Envolvimento e colaboração da comunidade

A licença autônoma do FileMaker Pro permitirá que você tenha apenas uma instância local do FileMaker em execução por vez (embora você possa criar várias contas de usuário nessa instância), enquanto o FileMaker Server e o FileMaker Cloud suportam vários usuários remotos simultâneos.

Os dados podem ser facilmente exportados do FileMaker para formatos comuns como CSV e XML para compartilhamento.

Usabilidade e acessibilidade

Embora o FileMaker tenha uma interface relativamente amigável, ele possui muitos recursos e é necessário ler a documentação ou seguir alguns tutoriais para aprender como usá-lo. O FileMaker é uma “lousa em branco”, então os usuários precisarão gastar algum tempo planejando e projetando seu banco de dados antes de construí-lo no FileMaker. Dependendo da complexidade do seu banco de dados e de como você deseja trabalhar com seus dados, pode ser útil ter habilidades em modelagem de dados, roteiros e design gráfico. O FileMaker oferece alguns modelos básicos padrão e é possível que qualquer pessoa crie e compartilhe seu modelo, como o Modelo de Banco de Dados Popular para Responsabilidade Policial Baseada na Comunidade que criamos com a Berkeley Copwatch. 

Os bancos de dados do FileMaker precisam ser criados usando o FileMaker Pro em um computador, mas podem ser acessados ​​e usados ​​em um iPhone/iPad ou em um navegador, se você tiver o FileMaker Server ou o FileMaker Cloud. O FileMaker Cloud requer acesso à Internet, mas o FileMaker Pro e o FileMaker Server não.

FileMaker oferece suporte a inglês, francês, italiano, alemão, sueco, japonês, holandês, espanhol, chinês simplificado, coreano e português do Brasil.

Suporte e treinamento

Por ser uma ferramenta comercial amplamente utilizada, o FileMaker tem uma extensa documentação formal disponível on-line, além de muitas outras fontes informais de informações, como os vários fóruns de usuários da comunidade na web. Em nossa experiência, pesquisar no Google nossas perguntas sobre o FileMaker geralmente também funciona.

Em termos de desenvolvimento e treinamento, existem muitos consultores independentes da FileMaker disponíveis para contratação. Claris fornece uma lista; usamos a organização join::table para se conectar com desenvolvedores para nosso projeto People’s Data base.

Escalabilidade e Sustentabilidade

FileMaker é a opção mais cara da nossa lista, em termos de custos iniciais de licenciamento de software, o que o torna uma opção irreal para muitas pessoas e coletivos. Além disso, o preço do licenciamento é por usuário, portanto o custo aumenta se você adicionar mais usuários. Para quem pode arcar com os custos, o FileMaker é provavelmente uma opção sustentável – já existe há muito tempo, é mantido e possui suporte continuamente e é amplamente utilizado.

Em termos de escalabilidade, o FileMaker pode suportar tecnicamente grandes bancos de dados e muitos usuários simultâneos, mas isso também depende de qual versão do FileMaker você está usando e do seu plano de preços.

Segurança, privacidade e dados confidenciais

O acesso no FileMaker é controlado por meio de contas de usuário, que podem ser definidas de forma muito granular com conjuntos de privilégios altamente personalizáveis.

Opcionalmente, você pode criptografar seu arquivo de banco de dados localmente em seu computador (que pode então ser carregado na nuvem se você estiver usando o FileMaker Cloud). Esteja ciente de que não há como recuperar sua senha de descriptografia se você a perder (ou seja, você não poderá mais abrir ou acessar seu banco de dados). 

Dependendo do seu modelo de ameaça, usar a versão autônoma do FileMaker Pro pode ser uma opção segura porque é totalmente offline.

Por que escolhemos o FileMaker para o banco de dados popular para responsabilização policial comunitária

A Berkeley Copwatch queria um banco de dados que pudesse rastrear diferentes tipos de informações, incluindo incidentes, vídeos e policiais, então um banco de dados relacional era o ideal. A organização também precisava de um banco de dados com uma interface muito fácil de usar e personalizar, para que seus voluntários e pesquisadores pudessem facilmente treinar para usar. Finalmente, devido a preocupações de segurança, queriam uma base de dados que só fosse acessível a partir do seu escritório e que pudessem alojar-se, mas que não exigisse muito suporte de TI. A Berkeley Copwatch também já havia usado o FileMaker e tinha registros de incidentes mais antigos que podiam ser importados para um novo banco de dados.

Tainacan

Tainacan é uma plataforma flexível, gratuita e de código aberto para coleções e repositórios digitais que pode ser usada, copiada, modificada e redistribuída sem quaisquer restrições, como um plug-in no WordPress. O Tainacan é desenvolvido desde 2014 por universidades brasileiras, e embora inicialmente voltado para acervos culturais e museológicos, como a plataforma de patrimônio museológico, Brasiliana, muitos projetos de direitos humanos estão adotando o Tainacan, como Centro de Memória Queixada e o Memorial da Resistência. A ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual), parceira da WITNESS, também escolheu o Tainacan como ferramenta para seu repositório colaborativo de recursos de preservação audiovisual. 

No Tainacan, recursos especiais de metadados incluem geolocalização (para visualizar itens em um mapa) e taxonomia (uma lista hierarquizada controlada de termos), e é possível usar DublinCore como um modelo de metadados para troca de dados. Existem várias maneiras de personalizar filtros e visualizar as coleções. É possível conectar itens da mesma coleção ou de coleções diferentes. 

Custo e Requisitos

Embora o Tainacan seja gratuito e não tenha custos de instalação ou atualização, ele roda em WordPress e depende de hospedagem WordPress, que pode ser fornecida tanto por meio de um serviço de hospedagem web (custos de acordo com provedores locais). Alternativamente, se você tiver alguns conhecimentos de tecnologia da informação, poderá instalar um servidor web e o WordPress em seu próprio computador e executar o Tainacan offline.

Envolvimento e colaboração da comunidade

A configuração dos usuários no Tainacan é semelhante às funções e permissões do WordPress, com possíveis customizações. O sistema de log permite que os moderadores rastreiem as alterações.

Recursos relevantes para o envolvimento da comunidade incluem a capacidade de aceitar submissões externas por meio de um formulário que podem ser aprovadas antes da publicação e a capacidade de usuários externos contribuírem com novos termos para uma lista controlada de termos. Também é possível que os usuários comentem cada item, o que pode ser habilitado para usuários anônimos ou identificados.

O código-fonte do Tainacan está disponível em GitHub, onde os usuários podem colaborar no seu desenvolvimento. Após configurar o esquema de metadados, é possível fazer upload de itens via arquivos CSV, permitindo importar e exportar bancos de dados.

Usabilidade e acessibilidade

A interface do Tainacan é altamente acessível e fácil de usar, com painel e funcionalidades simples. Instalar plugins no painel do WordPress e configurar a coleção é rápido e intuitivo e não requer conhecimento em nenhuma linguagem de programação.

O plugin Tainacan no WordPress está disponível emportuguês, inglês e espanhol; e há versões criadas por usuários em albanês, catalão, francês, grego, eslovaco, espanhol (da Colômbia, México e Espanha), sueco e ucraniano, com diferentes níveis de desenvolvimento. Com um plugin do Google Tradutor, é possível apresentar conteúdo em diversos idiomas diferentes.

Tainacan tem mais de mil instalações ativas em todo o mundo, e mais de 110 instalações estão documentadas em um Repositório Tainacan – principalmente no Brasil, e também no Chile, Grécia, México e Estados Unidos.

Para exibir as páginas públicas do Tainacan com seu conjunto completo de funcionalidades (pesquisa facetada e galeria de mídia, por exemplo), é possível utilizar um dos temas WordPress suportados pela comunidade Tainacan, implementar templates via código ou blocos que estão disponíveis para o editor WordPress. 

Suporte e treinamento

O Tainacan oferece documentação Wiki abrangente emportuguês, inglês e espanhol mexicano. O fórum on-line ativo fornece orientação abrangente para auxiliar na configuração, em que usuários podem pedir ajuda ou relatar bugs com suporte multilíngue. Existem vários webinars para configurar repositórios Tainacan em português, espanhol e inglês.

Escalabilidade e Sustentabilidade

O investimento constante das universidades em desenvolvimento faz do Tainacan uma ferramenta estável e sustentável para a comunidade. Apesar de ser uma ferramenta construída e consolidada desde 2014, a partir de junho de 2024, a última versão publicada é a 0.21.6. Alguns detalhes finais e revisões estão sendo feitos para que a versão 1.0 possa ser lançada.

Segurança, privacidade e dados confidenciais

A segurança dos dados depende em grande parte das medidas tomadas pelo host do seu site ou da instalação do seu servidor local. No entanto, também existem etapas que os usuários e administradores do Tainacan podem seguir. Diferentes perfis de usuário podem ser criados com diversos níveis de acesso e permissões.

O WordPress permite autenticação multifatorial e o Tainacan oferece ajustes de privacidade que protegerão arquivos e metadados, mas eles precisam ser acompanhados por um conjunto mínimo de configurações back-end para proteger contra ataques. Isso é bem tratado nos casos de uso atuais pelo enorme ecossistema de plug-ins e práticas recomendadas em serviços de hospedagem do WordPress.

Por que a ABPA escolheu o Tainacan para seu projeto

A ABPA criou um repositório colaborativo de recursos sobre preservação audiovisual em português, com mais de 170 itens relacionados, incluindo artigos, debates, dissertações e teses, entrevistas, exposições, guias, livros e webinars, entre outros. O Tainacan foi escolhido pela sua versatilidade no suporte aos tipos de documentos, na filtragem dos dados e nos modos de apresentação, mas principalmente porque permite que os associados colaborem com novos itens e temas através deste formulário.

[Incorpore alguns exemplos de imagens de planilha]

Planilha

 

Uma planilha é um formato tabular simples que permite estruturar, formatar, classificar, filtrar, localizar e disseminar dados com eficiência. É uma maneira mais simples de organizar e armazenar informações em comparação com um programa de banco de dados. As planilhas podem ser usadas offline com programas como LibreOffice, Microsoft Excel e Mac Numbers ou online, com ferramentas como Google Sheets, AirTable e Microsoft Excel Web. Independentemente do programa, uma planilha básica pode ajudar a sistematizar e controlar as informações.

Custo e Requisitos

Os custos variam. Ferramentas de planilha como LibreOffice, Google Spreadsheet e Numbers (somente Mac) são gratuitas. O Microsoft Excel vem com o Microsoft 365, que está disponível por meio de vários planos de preços. Airtable é um serviço “freemium” que oferece um nível básico gratuito e planos de preços para usuários e recursos adicionais.

Envolvimento e colaboração da comunidade

Como opção simples, as planilhas são mais flexíveis, mas exigem mais trabalho para garantir consistência. Por exemplo, se a ferramenta não puder impor regras de entrada de dados, torna-se mais importante empregar um dicionário de dados separado e listas de termos controladas. Considere fazer uma avaliação rotineira da consistência dos dados ao trabalhar com vários colaboradores. Avalie periodicamente se todos os colaboradores preenchem o catálogo de forma consistente. Alterações acidentais nos dados podem ser difíceis de rastrear, mesmo com o Planilhas Google, que rastreia as alterações, mas apenas se você examinar o histórico de versões.

Usabilidade e acessibilidade

As planilhas são fáceis de usar, mas é essencial considerar algumas práticas recomendadas, como evitar a mesclagem de células, controlar a entrada de dados para permitir indexação e filtragem eficazes e manter a consistência da catalogação. Além disso, configure as colunas conforme o tipo de dados, como número, data ou texto. 

Embora as planilhas sejam mais limitadas do que outros programas de banco de dados, elas normalmente incluem alguns recursos úteis, como filtros. Você pode usar filtros para classificar e limitar rapidamente os dados que deseja exibir (e o Planilhas Google oferece a opção de criar um filtro para você ou para todos os usuários).

Suporte e treinamento

Considere aprender sobre os recursos do seu programa de planilha antes de iniciar o processo de catalogação para garantir que ele seja suficiente para suas necessidades. Como os aplicativos de planilha são amplamente utilizados, eles tendem a ter uma documentação oficial muito boa. Também é fácil encontrar orientações de terceiros online.

Escalabilidade e Sustentabilidade

As planilhas podem se tornar complicadas quando você tem grandes quantidades de dados. Atente-se para quando a complexidade dos seus dados ultrapassar as capacidades de uma planilha. A organização HURIDOCS compartilha conselhos úteis sobre quando considerar ir além das planilhas e ir para o software de banco de dados, como quando você se vê codificando células por cores na planilha e fazendo pequenas gambiarras para encontrar dados; demorar muito para encontrar e editar informações; ou reformatar dados regularmente para atender às necessidades de diferentes ferramentas para criar tabelas, mapas ou gráficos.

Segurança, privacidade e dados confidenciais

Planilhas multiusuário online podem ser mais práticas para colaboração, mas não são tão seguras. Você pode optar por ter apenas uma versão offline por motivos de segurança e privacidade, mas manter a consistência requer um esforço adicional se um arquivo for compartilhado entre colaboradores.

Por que o Laboratório Popular de Medios Libres escolheu usar planilhas para o projeto MemoriaVIVA

O projeto MemoriaVIVA é liderado por Laboratorio Popular de Medios Libres em colaboração com Antena Negra TV, Sutty, Centro de Seguridad Informática y Tecnologías de la Comunicación, e com o apoio da WITNESS. A sua missão é recolher material multimídia denunciando violações dos direitos humanos, o que é crucial para apoiar advogados, jornalistas e a sociedade civil em processos judiciais. Cada coleção concentra-se em um período e território específico, como Peru, Argentina e Chile, e o material é mantido sob rigorosas medidas de segurança. Os dados sobre os vídeos, áudio e fotografias enviados à plataforma são coletados por meio do LimeSurvey, um programa de pesquisa on-line, gratuito e de código aberto. O acesso aos dados é feito por meio de planilhas exportadas do LimeSurvey que são analisadas/revisadas no LibreOffice. Esse processo impõe desafios, como a perda de informações devido à formatação diferente em cada plataforma e à conexão entre o material (armazenado em nuvem segura) e seus metadados. Por conta disso, o projeto está migrando para o Tainacan.

Estes são apenas quatro exemplos de ferramentas de catalogação que usamos em projetos com nossos parceiros. Esperamos que esta postagem forneça algumas dicas sobre os pontos fortes e fracos das opções que apresentamos. Qual ferramenta de catalogação você usa ou está pensando em usar? Se você ainda está decidindo, esperamos que esta postagem possa servir como um modelo útil para sua própria tomada de decisão!

 

SOBRE AS AUTORAS:

Yvonne Ng é arquivista audiovisual com 15 anos de experiência trabalhando na interseção de direitos humanos, vídeo, tecnologia e arquivos. Como Gerente Sênior do Programa de Arquivos da WITNESS, ela colabora com equipes regionais para apoiar parceiros na preservação de vídeos sobre direitos humanos e desenvolve orientação acessível e materiais de treinamento relacionados ao arquivamento e preservação. Yvonne possui mestrado em arquivamento e preservação de imagens em movimento pela NYU (New York University).

Ines Aisengart Menezes é preservacionista audiovisual. Desde 2022, atua no programa de Arquivos da WITNESS, atualmente como coordenadora. Graduada em Cinema pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e mestra em Preservation and Presentation of the Moving Image pela UvA (Universiteit van Amsterdam). Diretora-Técnica da ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual) no biênio 2022-2024. Atua em projetos comunitários de memória e justiça, com foco especial no software livre brasileiro Tainacan.