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16 maio | News and Events | jessicaribeiro

Arquivo e memória: preservação de vídeos para a autonomia comunitária

Texto original escrito por Meghana Bahar, tradução de Jéssica Ribeiro

Esta publicação marca o lançamento oficial da campanha global da WITNESS  “#MemóriaAudiovisual: preservação de vídeos para a garantia da memória coletiva”

A WITNESS lançou seu premiado Guia de Ativistas para Arquivamento de Vídeos em julho de 2013, há quase 11 anos. Desde então, temos apoiado e aprendido com organizações e coletivos de diferentes países em projetos de arquivamento de vídeo. Isso inclui o Banco de Dados Popular para Responsabilização Policial com a Berkeley Copwatch, Policiamento da Polícia, junto com o El Grito, o Arquivo Sírio com o Mnemonic e o Arquivo do Genocídio Rohingya, lançado em 2022, com a Rohingya Vision.

Arquivo comunitário como projeto político

O aprendizado da WITNESS ao longo dos anos nos mostra que em muitos contextos onde a violência e a opressão são extremas, a preservação de vídeos comunitários pode ser um ato poderoso, subversivo e influente.

Ativistas e pessoas que defendem suas comunidades são testemunhas de um volume sem precedentes de violações de direitos que bloqueiam o acesso à infraestrutura e às condições para manter acervos audiovisuais. Por isso, lutamos para diminuir as enormes disparidades nas oportunidades educacionais, polaridades extremas nas economias e a competitividade na criação e custódia de conhecimentos.

Portanto, como podemos captar o que é essencial para os nossos movimentos de direitos humanos de forma a fortalecer as nossas experiências interseccionais? Quando é que as nossas histórias deixam de ser cooptadas ou rejeitadas por forças opressivas? Como protegemos a veracidade das nossas memórias sócio-políticas e históricas do apagamento?

A abordagem da WITNESS para fortalecer a memória coletiva

Felizmente, podemos fazer algo para validar verdades sub-representadas se começarmos a ver e a nos envolver na preservação de vídeos comunitários como uma prática decolonial, como uma ação não negociável dentro das etapas para que o vídeo apoie processos de justiça. Desde a captura de imagens até a sua utilização futura para fins de justiça e responsabilização, a preservação ativa da memória coletiva torna-se então interligada com esforços de resistência. 

Os colonizadores documentaram, extraíram e preservaram fortemente os artefatos das sociedades colonizadas durante séculos. A documentação que pertence e é gerida pelas comunidades interroga inevitavelmente a intersecção das estruturas financeiras e imperiais. As dinâmicas opressivas evisceram sistematicamente as verdades comunitárias e atrasam criminalmente a ponte entre fronteiras e a cura dos traumas coloniais.

A preservação de vídeos comunitários, que buscam manter a memória coletiva, torna-se, então, uma forma de proteger outras formas de expressão que não têm espaço nas mídias hegemônicas. Para perturbar e combater o colonialismo, o capitalismo, o ecocídio, o patriarcado, o imperialismo, o fascismo e outras formas de violência, é crucial que as narrativas de comunidades marginalizadas sejam recentralizadas.

As ações da WITNESS para apoiar essas mudanças resultaram na criação de orientações compartilháveis, como nosso Guia co-criado com o Texas After Violence Project (em inglês), e a série de tutoriais para filmar durante os bloqueios da internet, lançada como parte da campanha #EyesOnShutdowns da WITNESS, em novembro de 2021.

A WITNESS também se envolve com a C2PA (Coalizão para Proveniência e Autenticidade de Conteúdo) para ajudar a reforçar a credibilidade dos meios de comunicação criados pelas vozes críticas de pessoas defensoras dos direitos humanos, jornalistas e arquivistas de vídeo.

Desde o ano passado, a WITNESS está realizando uma pesquisa sobre as necessidades e práticas de preservação e arquivo das comunidades para entender melhor os desafios de quem cria e coleta vídeos. 

Participe da pesquisa e contribua para a próxima atualização do Guia de Ativistas para Arquivamento de Vídeos, projeto que começa em julho deste ano.

Junte-se à WITNESS para proteger arquivos comunitários 

A preservação de vídeos sempre será uma prática em evolução. A colaboração é a âncora, não apenas a chave.

A WITNESS reconhece as dificuldades das comunidades que documentam e preservam vídeos enquanto enfrentam inúmeros obstáculos, como bloqueios de internet, censura de plataformas, bombardeios sancionados pelo Estado, racismo institucional, ataques, degradação ambiental por parte de empresas extrativistas e inúmeras outras violações de direitos humanos. Essas devastações deixam as comunidades sem acesso a recursos, competências, ferramentas e equipamentos vitais e corroem ainda mais provas substanciais.

Por meio da nossa campanha #MemóriaAudiovisual, a WITNESS pretende aumentar a sensibilização para os arquivos de vídeo comunitários de direitos humanos e iniciativas semelhantes que registram atos de resistência. Continuaremos destacando e compartilhando:

  • Recursos sobre preservação de vídeo;
  • Um debate ao vivo com ativistas de diferentes regiões para avaliar contextos locais, necessidades e/ou práticas de memória comunitária local;
  • Nossa pesquisa sobre as necessidades e as práticas de preservação audiovisual de direitos humanos para envolver participantes que tenham interesse em apoiar discussões sobre os desafios, as práticas atuais e as necessidades dos documentaristas de direitos humanos – algumas das respostas serão partilhadas durante a campanha; 
  • Oportunidades para parcerias na campanha de ativação local e iniciativas futuras em torno de arquivos de vídeos comunitários de direitos humanos.

A coleção e a curadoria de histórias é também a preservação da vida. Garantir a sua longevidade é garantir que as memórias serão preservadas, por mais sombrias, grotescas ou alegres que sejam. Os arquivos de vídeos comunitários são uma forma de participarmos da decolonialidade com o propósito de contínua transformação e autonomia social. 

O conceito de identidade visual da campanha

O trabalho de design da campanha #MemóriaAudiovisual apresenta abelhas antropomorfizadas, suas colmeias e o mel, símbolo que pode representar o espaço de coleta, quem coleta e o que é coletado.

Nossas abelhas-arquivistas aparecem nos desenhos da campanha com atenção concentrada. Ajudam a dar vida aos diferentes papeis nos processos de preservação que caminham em direção ao propósito comum de justiça social. Por meio da colaboração e comunicação conscientes, o seu trabalho transforma o néctar em mel.

A fita balsâmica em tons de arco-íris que passa pelos favos é o extrato de mel. Essa substância preciosa é rica em minerais e vitaminas. Essa preparação pode ser comparada aos ingredientes agridoces dos nossos medicamentos coletivos que sustentam o canal da justiça.

O ícone principal nos materiais da campanha é o hexágono, formato distinto de seis lados que ajuda a formar a colmeia sem lacunas. O hexágono tem vários significados para culturas em todo o mundo. Os antigos egípcios o usavam como símbolo de proteção no processo de mumificação, uma prática de preservação que evita a decomposição do corpo humano.

A simbologia escolhida alude à noção de que a preservação é um processo intencional quando aplicada com diligência e não deixa lacunas. Os arquivos de vídeos comunitários servem para proteger seus conteúdos ao longo do tempo. 

Siga as redes regionais da WITNESS para acessar materiais multilíngues:

Sobre a autora: Meghana Bahar é editora do Blog da WITNESS e dirige o Programa Global de Comunicações Digitais. Ela ajudou a estabelecer e liderar comunicações regionais para o programa da WITNESS na Ásia-Pacífico e tem mais de 25 anos de experiência na defesa de movimentos transnacionais e globais de mulheres e de direitos humanos como especialista em gênero e mídia.

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