Palavra Perdida: Vídeo novo retrata 2 dias de guerra no Complexo do Alemão

Depois da morte de pelo menos duas pessoas em três dias no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, mais de 500 pessoas saíram às ruas no dia 4 de abril para exigir o fim do extermínio de moradores de favelas pelo projeto UPP de pacificação do governo estadual.

“O sentimento do morador do Complexo do Alemão hoje é de revolta.  Revolta.  Porque todo o dia morre alguém.  Todo dia alguém é baleado, todo dia uma família chora”, disse Lana de Souza, do Coletivo Papo Reto, que organizou o protesto do dia 4.

Neste vídeo novo do Victor Ribeiro, vemos a comunidade reagindo e resistindo nos dias após a trágica morte de pelo menos dois moradores, incluindo uma criança de 10 anos.

 

Semana de guerra: No dia 1 de abril, a mãe de família Elizabete Moura, de 41 anos, e sua filha adolescente de 14 anos foram baleadas enquanto estavam dentro da própria casa.  Um vídeo flagrado por moradores mostrou o desespero da família ao tentar salvar a Elizabete e colocá-la dentro de um carro para transportá-la ao hospital.  Mas ela não resistiu aos ferimentos e morreu, sua filha foi atingida no braço mas deve se recuperar.  Leia mais sobre o caso da Elizabete aqui.

No dia seguinte, o menino Eduardo de Jesus, de apenas 10 anos, brincava na porta de casa quando recebeu um tiro de fuzil na cabeça, disparado por um policial a poucos metros de distância.  “Quando nós chegamos lá (na cena onde Eduardo foi morto), a gente se sentiu sem chão,” disse Raull Santiago, também do Coletivo Papo Reto.  Um dos primeiros a chegar no local, o Papo Reto filmou a cena durante toda a noite, ajudando a amparar a família e a garantir a preservação das provas.  Veja o vídeo da noite da morte do menino Eduardo aqui.

“Muitas vezes a gente chega num lugar para filmar uma pessoa que foi vítima de bala perdida e daí você olha e acaba descobrindo ali que aquele cara foi o seu amigo, ele estudou com você, ou ele tem uma ligação próxima com algum outro amigo seu.  Daí você fica naquela situação: filmo ou não filmo, dá um embolo no coração e um nó na garganta, é triste, é tenso (…) E você não pode fazer nada, é simplesmente registrar para que aquilo vá para rede e agente possa minimamente tentar resolver alguma coisa ou dar voz à favela” disse um dos fotógrafos do Papo Reto, Carlos Coutinho.

Moradores contabilizam mais de 100 dias seguidos de tiroteio só neste ano.  O Coletivo Papo Reto, junto com outras redes do CPX, vem relatando a violência e sonhando com os dias em que não terão mais que narrar a guerra.  Conheça mais sobre o trabalho do Coletivo Papo Reto aqui e nesta matéria do New York Times.